segunda-feira, 6 de abril de 2020

Crise (e não só do Corona Vírus)

Em tempos de crise sempre reapareço por aqui.
E que crise. Mundial.

Corona vírus. Fico curiosa sobre como lembrarei dessa época daqui um ano, daqui cinco anos, vinte anos.

Já estamos morando no apê. Nos mudamos no final de fevereiro. Ainda não instalamos o forno elétrico, porque a válvula de gás ficou atrás do espaço do forno e ele não cabe como deveria, então teremos que acrescentar uma frente ao móvel para que dê espaço pro forno.

E estamos de quarentena. Eu, desde o dia 20 de março (18º dia). As aulas do município só voltam em maio (isto se não alterarem as datas) e da particular também, porém, na segunda estou trabalhando em regime home office e, se bem conheço, terei que voltar ao trabalho presencial antes dos alunos.
O Mozão esteve de quarentena também desde o dia 21 até ontem. Hoje voltou ao trabalho.

Quero escrever aqui sobre como foi a quarentena e esse primeiro mês morando com Ele. E também escrever sobre como estou me sentindo sobre o trabalho na particular. E também sobre essa época de crise decorrente do Corona Vírus.

Primeiro, vou escrever sobre a particular (tentar deixar o assunto bom pro final pra terminar feliz). Esse ano está sendo diferente do ano passado. Me sinto deslocada. Estou sendo cobrada por coisas que eu não sabia que me competiam (na verdade não competiam a mim). O tão esperado aumento de salário não apareceu e nem tenho coragem de pedir nas atuais circunstâncias (mesmo antes da quarentena). O que estou tendo vontade de pedir é demissão.
Eu gostava muito de trabalhar lá. Mas não suporto que fiquem dizendo "quem não trabalhar direito é rua", "quem não estiver fazendo seu trabalho, quem não estiver estudando, sinto muito, mas vai sair". Então manda embora de uma vez. Chama na sala e fala. Mas não fica dizendo no geral assim. Eu fico mesmo chateada. Não me sinto bem.
Sempre me falaram da grande chefe. Que era uma pessoa difícil, dura, mas ela sempre tinha me tratado bem, e eu respondia isso: sempre fui bem tratada, não posso reclamar. Muito bem, chegou minha hora de ser tratada da maneira que todos são. Eu não me importo de ser cobrada de algo que não fiz. Até fico chateada, mas comigo mesma. Mas ser cobrada por coisas que não me cabem? Ah, isso me chateia muito! Odeio estar na posição de incompetente sendo que nem tenho culpa. Enfim, ou as coisas mudam ou não vou aguentar por muito tempo. Não mereço ser tratada dessa maneira. Pedi pra conversar com a chefe (não a grande) hoje por telefone, vamos ver o que ela vai dizer, mas quero mais clareza no que preciso fazer para que eu seja cobrada com motivo, pelo menos.

Agora, essa coisa toda de corona vírus. Não gosto de ficar repetindo o nome do bicho, parece que o atraio. Não que ficar sem falar dele vai me fazer ficar imune ou distante mas enfim.
O que sabemos até agora é que ele surgiu na China no final do ano passado, já infectou milhares de pessoas no mundo todo (sim todinho) e já morreu muita gente. Em países como a China, Itália, Equador e EUA os sistemas de saúde entraram em colapso. Aqui no estado do Amazonas já decretaram que o sistema de saúde entrou em colapso. Isso porque o vírus se alastra muito rápido, então muitas pessoas ficam contaminadas ao mesmo tempo. Mesmo que apenas uma pequena porcentagem precise de internação, uma pequena porcentagem de uma grande quantidade acaba sendo uma quantidade grande também, ainda mais se comparado ao número de leitos de UTI disponíveis nos sistemas de saúde. Isso considerando os públicos e os particulares. Não há leitos suficientes para todos. Ainda mais porque não é só para os contaminados com os vírus: as outras doenças continuam acontecendo.
Li alguns relatos bem tristes sobre pessoas que se contaminaram e faleceram rapidamente, com a família sem entender direito o que estava acontecendo, sem direito a velório ou velório de apenas uma hora, cidades onde as pessoas estão morrendo em casa porque não há leitos em hospitais e as famílias ficam com os corpos em casa, outros locais onde os corpos estão nas ruas, enfim, histórias desoladoras.
Estou pedindo que meus pais fiquem em casa. Estou ficando em casa. São 18 dias onde saí somente quatro vezes: três delas fomos ao mercado e na casa dos meus pais e sogros. Na última, somente no mercado. Em todas as vezes, tomando as precauções indicadas, como a distância mínima de outras pessoas, nada de abraços e beijos, não tocar o rosto, chegar em casa e trocar toda a roupa, lavando a roupa da rua, tirando o calçado perto da porta, higienizando todas as compras e celulares e cartões e etc.
Todos dizem que nada parecido foi vivido pela sociedade atual. Essa crise assemelha-se à gripe espanhola, que aconteceu por volta de 1918, há mais de 100 anos, então, há poucas pessoas que passaram por ambas crises.
É bem assustador. Tenho medo de perder alguém da minha família, alguém que eu goste.
Nem quero falar sobre o comportamento do Governo Federal frente a isso tudo.

Eu li no final do ano passado ou início desse ano sobre uma previsão espírita que dizia que muitas almas iriam desencarnar nesse ano de 2020. Lembro que falava em uma grande leva de almas que iria deixar a Terra, algo assim. Pensei em algum grande acidente, não conseguia ter ideia do que poderia acontecer, não imaginaria que um vírus traria essas consequências. Se a "profecia" foi verdadeira? Não sei, me parece que todos os anos tem a essa mesma profecia, não me dei tempo para isso ainda.

Ficar todos esses dias em casa é estranho. Eu trabalhei dois dias à distância na particular e entrei em férias (mais fácil que daí não precisam me dar férias depois e acham q eu sou dispensável mesmo). Foram boas as férias pq não precisei estar me preocupando com o trabalho. Mas hoje precisei voltar ao home office e não pude deixar de me estressar assim que abri os emails. Como eu já comentei aqui, não está fácil.

Mas ficar em casa nessas duas semanas com o Mozi foi interessante. Ele está sempre de boa. Não se culpa, não se estressa. Eu estou o tempo todo me culpando por não estar estudando, por não estar fazendo isso ou aquilo. Meu psicológico que me sabota as always.
Eu me cobro por não ter terminado o tapete do banheiro, por não ter limpado as janelas da sala e cozinha, por não ter limpado os vidros, por não ter feito ainda o PPI, por não ter colocado as aulas e faltas no sistema, por não ter lido vários livros nesse tempo (li dois) e não estar lendo nada agora, por estar dormindo demais (hoje levantei da cama quase meio dia), enfim, várias coisas.
O Mozi é muito tranquilo. Ele anota o que está faltando para comprar no mercado. Ele vai ao mercado e compra. Ele toma a iniciativa para fazer comida: levanta e faz. Me pede quando precisa de ajuda, mas pesquisa muito na internet. Gosta de passar aspirador e só reclama do cheiro de Qboa que faz mal pra ele (meu pai sempre reclamou também). De maneira geral, eu não posso reclamar. É muito mais organizado do que eu, coloca as roupas sujas e limpas no lugar certo. Aliás, quem organizou o roupeiro foi ele. Dobrou tudo, colocou em cabides, organizou prateleiras, enfim. Fez tudo lindo.
Nós cozinhamos, assistimos séries, conversamos, ouvimos música (muita música). Está sendo muito boa a convivência. Ainda bem que pudemos passar juntos essa fase. Já pensou ter que ficar todo esse tempo separado? Nós, que sempre nos vimos desde o início do relacionamento. Às vezes discordamos, rola um clima chato, mas logo se resolve. O estresse do confinamento colabora.

Tiveram dias que eu pensei que entraria em parafuso. Dias lindos de sol (hoje é o primeiro que amanheceu chovendo e continua chovendo até agora) mas aqui dentro eu sentia como se fosse o pior inverno. Hoje que fiquei até mais tarde na cama me senti como me sentia em Portugal, nos dias chuvosos e frios onde eu precisava muito estudar. Uma angústia que dói e desanima e dá menos vontade ainda de fazer qualquer coisa.
Eu sei que a maneira de eu parar de me cobrar é fazer e deixar feito de uma vez. Mas, como já disse, essa angústia destrói qualquer vontade de qualquer coisa.
A última vez que fui na psicóloga foi no início de fevereiro. Março não tive dinheiro e abril também não teremos.
Tem isso também: estamos apertadíssimos financeiramente. Tipo, no vermelho.

Eu estava muito chateada com a particular e achei melhor vir aqui escrever para poder desabafar. Já faz três horas que intercalo o que estou escrevendo aqui com o trabalho.

Acho que era isso. Tentei deixar a parte boa pro final mas acabei estragando. Mas tudo bem.
Espero que eu possa postar coisas boas em breve.

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