sexta-feira, 10 de maio de 2024

Muitos pratinhos

Brevemente, queria registrar aqui como me sinto nesses dias.

A catástrofe ambiental no RS já dura duas semanas. Faz uns 11 dias que ficou feio de verdade. E, depois de ter feito sol entre segunda e ontem, hoje voltou a chover forte. O número de mortos já passou de 100 (era 107 ou 110, hoje, pelo que lembro), isso sem contar os mais de 120 desaparecidos. (não sei os números exatos e prefiro não pesquisar agora, mas estou estimando baixo.) Está bem difícil.

Meus pais voltaram pra casa no domingo, e estão monitorando a chuva pra saber se precisam sair de lá. Há avisos de risco de desmoronamento em metade do estado, pois a chuva de hoje cai numa terra já encharcada há vários dias.

A vida vai tentando voltar ao normal. Trabalhamos normalmente desde terça. 

Mas lembrando que alguns colegas de mestrado ainda estão fora de casa, pois as casas alagaram, podem ter perdido muita coisa... é muito triste.

Ficamos de quinta até terça sem água, indo tomar banho na casa dos outros e buscando água no Iraci, comprando água mineral pra beber. A água voltou bem direito ontem (quinta).

Ao mesmo tempo, vejo muitos pedidos de ajuda - até cobranças, na verdade, pois é assim que soam - e ainda não fiz nada pra ajudar. Eu tentei doar mas quando vi já não precisavam do que eu podia ajudar. Não fui ser voluntária, não irei no final de semana. Mesmo que eu saiba que não vou pois tenho outros pratos para equilibrar, a culpa não deixa de aparecer e pesar nos meus ombros.

Vou ajudar, sim, aqueles que eu conheço e que foram afetados. Devagar, vou ajudar. Não quero que isso também seja mais um prato para dar conta.

Preciso controlar o meu eu exigente, que vem aparecendo muito nos últimos dias. 

"não se depilou" "não limpou a casa" "não saiu pra correr" "se preocupa em se depilar com gente sem casa" "Se preocupa com a casa e nem tinha água" "vai sair como correr na chuva sua louca" "vai sair correr como sem poder tomar banho e lavar roupa" "não foi atuar como voluntária" "vai sair de casa como sem banho" "Não fez nenhuma doação" "não adianta doar o que os outros não precisam" "Nem doou dinheiro ainda pra quem conhece, pra ninguém" "vai doar pros outros e se precisar depois pra própria família?"

Essas são algumas das frases que ficam pesando aqui nos últimos dias.

Tá difícil de aguentar. A uma hora de psicoterapia não dá conta.

Enfim, era pra ser breve. Preciso terminar de lavar a louça e trabalhar na dissertação. Oremos.

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